quinta-feira, junho 28, 2007

COLUMBINE


escolas são ambientes terríveis. e são excelentes laboratórios comportamentais. nos e.u.a., as escolas são o melhor local para entendermos a sociedade americana. é nas escolas que começam a se formar a divisão entre winners e loosers, entre ricos e pobres, entre os belos e os esquisitos. na adolescência (e na pós-adolescência, nas universidades) afloram os comportamentos irracionais, a busca insana pelo status (falso e inseguro, diga-se de passagem), os sentimentos de inferioridade daqueles que se sentem sobrepujados. pois a natureza humana não é uniforme: nossa existência é dada por algo algo que transcende a nossa vontade: não escolhemos a nossa propensão a comer demasiadamente, as nossas espinhas, o nosso nariz gigantesco, a nossa incapacidade de entender o que o professor diz (embora sempre um CDF ou pior ainda, um vagabundo inteligente e genial, entenda rapidamente aquele assunto...).

sim, humanos disputam status: ser o animal que lidera manada signfica não ser comido pelo lobo ou tigre que persegue o rebanho... está nos genes...

então as competições começam. e, engraçadamente, sempre começam por aquele que se sentem ameaçado, que se sente por baixo... nas minhas longas pedaladas de mais de 100 kms, sempre que cruzava alguma vila pequena onde algum ou alguns adolescentes usando velhas bicicletas faziam questão de sair pedalando e me acompanhando, não raro ultrapassando.... momento em que sorriam com o sorriso da vitória e voltavam ao ponto inicial de sua desabalada carreira... era o momento em que "tinham ganho do ciclista" que passara por ali... mas eu já havia pedalado quanto? 50, 60 kms, e pedalaria outro tanto... era até divertido diminuir um pouquinho o ritmo pra deixar algum garoto descalço numa antiga barra-forte me ultrapassar....

vemos esse espírito competitivo em uma roda de mulheres, quando passa uma outra um tanto mais bonita... ou quando a garota mais bunduda resolve namorar o mais rico da sala...

esse sentimento de inferioridade, em casos patológicos, pode degenerar em verdadeiras tragédias. foi o sentimento generalizado de humilhação do povo alemão no pós I guerra que permitiu a ascensão do nazismo. é o sentimendo de inferioridade de adolescentes burrinhos, feios, espinhudos e esquisitos que os transformam em verdadeiros chacinadores... columbine que o diga...

pois o infeliz culpa os demais pela sua própria infelicidade. a garota feiosa e burrinha que é incapaz de seduzir o galã da sala odeia a bela e bem articulada que chama atenção de todos os homens. o homem infeliz no casamento (o que casou com a feiosa burrinha do exemplo anterior e que, de desgostosa, tenta de todo modo arranjar outro homem melhor, mas não consegue por ser justamente feiosa e burrinha), odeia os colegas solteiros ou bem casados... na verdade os inveja. e odiamos o que invejamos.

esse mecanismo da inveja é amplamente utilizado pelas técnicas de marketing... o executivo de vida chata inveja o geólogo aventureiro, e mata sua inveja comprando um carro que parece um jipe (mas nada mais é do que um modelo urbando com rodas mais altas). pensa-se que ter é ser. quando ser é fazer. o que não faz não é, e não adianta mascarar: um dia a máscara cai. como a "boa aluna" (na verdade uma perita em colar) que depois não passa no vestibular para um disputado curso numa universidade pública. e o sucesso alheio é o desmascarador: o cortador de cana que alfabetizou-se aos 16, fez supletivos noturnos, estudou com apostilas recolhidas no lixo e cursa agora uma usp, unesp, unicamp, unifesp, acaba por expor a mediocridade alheia.

e é contra esses que depois se voltará o ódio dos loosers, dos "perdedores": na alemanha nazista viram-se cenas de quima de livros de obras de arte "degenerada".... afinal, hitler era um artista medíocre, odiava a arte moderna, talvez por não ser capaz de compreender um picasso, um miró... afinal, para uma mente medíocre os quadros de jackson pollock são só borrões de tinta...

manipular o sentimento de inferioridade é a fonte de poder de alguns. o manipulador cria uma identidade entre ele e os medíocres (muitas vezes ele é apenas um medíocre carismático, como hitler), e uma diferença, um antagonismo contra o grupo que ele denomina inimigo... foi feito um bom filme curto sobre o assunto: "A onda” [ The wave] (– Dur.: 45 minutos – Direção: Alex Grasshof - País: EUA - Ano: 1981 Elenco: Bruce Davison, Lori Lethins, John Putch, Jonny Doran,Pasha Gray, Valery Ann Pfening), baseado num caso real ocorrido em palo alto, em 1967. vale à pena ser visto.

em tempo. a pintura no alto do texto é de j. pollock. chama-se blue, ou moby dick. c. 1943
os medíocres ainda acharão os desenhos de hitler melhor do que esse quadro...