sábado, fevereiro 17, 2007

KADDISH

entre os hebreus, quando alguém morre, é necessário que um filho ou um parente seu salve-o do inferno. faz-se rezando diariamente o kaddish, a oração fúnebre, durante um ano. todavia, como pensar que seu pai ou mãe está a caminho do inferno? não se espera isso dos próprios pais. mas por precaução, reza-se o kaddish, diariamente, por onze meses.

onze meses. não é um ano, mas é quase. é o suficiente para se perceber que o verão se foi, chegou o outono, o inverno, a primavera e outra vez o verão. uma criança de onze meses, como a minha sobrinha ao seu tempo, anda, ensaia palavras. expressa-se já, de algum modo. onze meses é tempo maior que dois semestres letivos, que um ano letivo efetivo. não é pouco. não o é.

onze meses é tempo para conhecermos o modo de ser de uma pessoa com quem se convive bastante. já conhecemos seus gostos, suas reações, e se há algum falso encanto, esse já se foi. mas e se o encanto permanece? e se nossos olhos brilham ao ver essa pessoa, se ansiamos por sua companhia, por suas palavras, por uma conversa gostosa e um abraço, as mãos dadas?

não é pouco, decididamente não o é.

onze meses. não é um ano, mas é um pingo de eternidade. pois o tempo não parece correr.

michelle, você entendeu.