quinta-feira, novembro 23, 2006

PG BLUES

que fazer? ela ainda estava machucada. oito anos, e sobrara um misto de cansaço, asco e mágoa, e uma filha linda para criar.

uma juventude que, agora, ela sabia perdida, por mais que dissessem o contrário - ainda sentia-se um tanto deslocada entre os solteiros, como uma criança pela primeira vez num parque: o receio ainda refreava a imensa vontade de sair correndo. como se não merecesse a desabalada e feliz carreira sobre a relva.

sair da escura caverna de platão ainda causava a vertigem, os olhos desacostumados feriam-se perante a luz, os mesmos olhos que fitavam a boca e traiam o desejo de beijá-la. olhos ainda mais sinceros do que as palavras que ouvia sair de sua garganta. um não que queria, mas não queria, dizer um sim, um longo sim. ou não.

um arrepio por um dedo na nuca.

uma perda de tempo resistindo ao que não se quer resistir. uma timidez no trato pessoal que contrariava a coragem na tribuna. a professora que ora se via aluna.

tudo muito novo. assustadoramente novo, encantadoramente novo.
medo.
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o telefone toca, um número longínquo.
o que se espera ouvir? o que se pode esperar ouvir?
uma conversa despropositada, pois as palavras, em si, por ora foram menos importantes do que a surpresa da ligação ou o ouvir da voz... a doce areia movediça da situação nova. estranho. talvez bom. mas... como saber?
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na cidade milenar dos peregrinos, uma lembrança... a espera de ver um rosto conhecido atrás de cada mochila.
apenas uma lembrança... ou uma esperança? apenas o tempo dirá, o mesmo tempo que é senhor da razão.